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domingo, 16 de agosto de 2009

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A Fada e a Árvore

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CRÔNICAS DO MUNDO QUADRADO


O mundo é um imenso labirinto quadrado, cheio de encruzilhadas... E pessoas indo e vindo habitando nele... Elas não sabem o que fazem ali... No meio dele há uma montanha enorme, onde nuvens encobrem o topo, alguns dizem que ali habitam deuses, outros que ali o frio mata a própria alma... Poucos a escalaram... E os que voltaram não relataram coisas coerentes, outros se tornaram coisas diferentes.Renf, O Druida.

A história abaixo foi reconstruída a partir de um diário encontrado no pé de uma árvore muito antiga, que existe no lado sul do nosso labirinto mundo. Esse diário possuía uma enorme variedade de pequenos pontos brilhantes, como as asas de uma borboleta.


A Fada e a Árvore


Uma vez me despedi de alguém numa encruzilhada do labirinto... Nunca mais a vi... Faz pouco tempo me despedi de outra... Essa, espero ver novamente. A vida aqui é assim, como numa maré de pequenas decisões que influenciam todo o seu futuro, se tornando ondas e se chocando nas ilhas de mosaicos das coisas desejadas, aonde algumas vão se realizar, outras vão permanecer nos pensamentos e algumas, nunca sonhadas, aparecerão na sua vida...

Houve uma época em que meu desejo era ter borboletas: perdia um tempo precioso correndo atrás delas. Colecionei algumas e quando elas morriam, eu as guardava imóveis, mortas, e as conservava com formol... Com o tempo, suas asas perdiam o brilho e cor. No fundo, sentia prazer em ter coisas mortas guardadas - aqui, muitos de nós nos alimentamos de cadáveres...

TÉDIO, tudo tende ao tédio...

Desejei então que as borboletas voassem perto de mim, com suas asas multicores e vôos graciosos, mas nunca consegui atraí-las, nem por um pequeno tempo sequer... Desisti... Continuei a andar vagando e virando sem olhar à esquerda ou à direita das encruzilhadas que apareciam a minha frente. Andei por muitos rumos e disperso, acabei esquecendo os meus sonhos e desejos...

Esqueci que havia todo um mundo além de mim, de coisas e pessoas a serem vistas e apreciadas... E a única coisa naquele momento que me incomodava eram as paredes do caminho que me sufocavam... Acreditava, realmente, que isso era só comigo...

Certa tarde parei cansado em frente a um enorme jardim, lá conheci um jardineiro que me deu água e frutas frescas... De tão exausto adormeci durante um bom tempo.

Ao ir embora, me contou que no topo da montanha eu encontraria aquilo que procurava... Como assim? Como outra pessoa poderia me dizer o que desejar? Como outro ser poderia pela expressão do meu rosto saber dos desígnios do meu coração! Mas,na falta de outro caminho a seguir, resolvi tenta e assim comecei a escalar...

A subida foi árdua e cansativa. Ganhei, durante a subida, marcas, frustrações e bolhas nos meus pés... Atravessar as nuvens foi a parte mais difícil, não conseguia enxergar nada a minha frente, houve momentos onde não via nem a mim: nessas horas tinha que me tocar para saber que existia...

Alcancei enfim o topo.

O chão era branco e fofo, fazia frio e não havia nada, a não ser neve... Neve, neve e mais neve em todas as direções em que olhava...

Andei por aquele deserto alvo até a sua outra borda, lá, como que esperando por mim, as nuvens se abriram e pude contemplar o labirinto abaixo: A vida fervilhava, e me vi hipnotizado por aqueles pontos caminhando para lá e para cá, do mesmo jeito que quando criança observava um formigueiro... Andei por mais um tempo e encontrei uma pequena árvore com frutos amadurecidos e imaginei o quanto ela teve que lutar pra sobreviver ali, em terreno tão inóspito... E peguei várias vezes a perguntar abobalhado como a semente que tinha sido trazida pelo vento até ali...

Senti-me pequeno e sozinho...(no fundo achei que existiria algum tipo raro de borboleta naquele frio). Senti-me idiota... Alimentei-me dos frutos da árvore, que eram bons e cheios de sementes... Ao invés de jogar as sementes fora, as guardei nos meus bolsos. Decidi descer até o labirinto e guardar, como lembrança, neve e terra daquele lugar, como eu fazia em todos os lugares por onde passava... Não tinha mochila, os bolsos ficaram pesados.

Adentrei o labirinto de encruzilhadas e me distraí, não lembrei do que tinha nos bolsos... Continuei caminhando e me vi feliz quando apareceram novos companheiros de jornada: alguns viravam logo na outra esquina; outros caminhavam comigo por mais tempo; alguns eu voltava a encontrar e trocávamos relatos; outros se aproximavam de mim por curiosidade, alguns queriam saber como era a montanha. Muitos só me faziam perguntas.

Existem Deuses no alto da montanha?

Era a pergunta que mais ouvia, e por saber que lá não existia nada a não ser a pequena árvore, Resolvi começar a agir como um louco, Assim anulava a possibilidade de destruir suas crenças, alguns só tinham isso no que acreditar... Desisti de saber onde estava e para aonde estava indo... Tomei chuva, sol, sofri com o frio e ventanias. Houve vezes que tive companhia à noite, mas na maioria dormia sozinho. Dancei algumas vezes, na verdade, várias delas bêbado em volta de fogueiras.

Pessoas desistiram de mim... Não liguei, pois naquele momento eu podia observá-las há vontade...Vi então que em sua maioria elas não sabem o que se tornarão, não sabem para aonde estão indo, porém teimam em fingir que sabem... Enquanto eu tinha parado de querer saber a muito tempo e sem perceber simplificava a minha existência... Minha rotina era andar, comer, dormir e observar...

Fiz-me marcas voluntárias e implantei adornos metálicos no corpo, desisti de caminhar em direção ao norte... Somente às vezes eu me indagava quem era aquele ser que me olhava entre a aversão e o fascínio ao fazer a barba. Assim, meio sem querer, lembrei dos meus sonhos e desejos, olhei nos meus bolsos e percebi assombrado que as sementes brotavam e cresciam aos pouquinhos...

Passei a cuidar delas, com terra adubada que colocava em mim e passei a tomar mais banhos de chuva...

Aos poucos tornei-me um jardim caminhante, e ao sentar para descansar numa pedra, vi uma fada em forma de borboleta, ela era estonteante, soube naquele momento que meus olhos durante minha breve vida, yalvez jamais veria beleza igual. Seu vôo era de uma delicadeza que hipnotizava... Pela primeira vez fiquei embriagado, sem usar outro recuso que não fosse minha visão...

Meu antigo hábito queria que eu a capturasse, meu novo eu deixou que ela partisse sem que eu sequer me movesse. Fiquei feliz em possuir sua ternura em meus olhos...

Me sentei na beira de um rio e reduzi meu ritmo de andar ao mínimo necessário. As sementes nesse momento que escrevo estão enormes e muitas outras plantas cresceram a minha volta. Pelos lugares que as vezes passo sou muitas vezes confundido com uma árvore, às vezes não sei se tenho mais pernas e braços ou galhos e raízes...

Estou um pouco velho, na minha orelha esquerda um casal de passaros fez um ninho e canta todas as manhãs...

...

Dias atrás, novamente, vi a fada borboleta. Assim, quase sem respirar e imóvel, contemplei seu trajeto de vôo até o pouso em meus galhos...

...

Não saberia dizer quando tempo a tive ali comigo, mas sei que o máximo que se pode esperar da perfeição é um breve momento... Estou realmente muito feliz, pelo que fui, pelo que sou, pelo que poderia ser!

...Escrevi o relato de como um menino realizou seu sonho... Se tornou árvore. Ou talvez seja eu que na minha arvoreza sonhei nas travessuras e ilusões de um menino...

...

...

...Abandonarei esse diário e tudo que me traga lembranças boas ou ruim...

...depois de hoje só sou...

...

... Estou acordado?... Dormindo?...

...Percebo que quando o sol se põem que ela vem, pousa, descansa comigo e n...

...

...

...

...mente feliz ...

.






Representação dessa história foi pintado por Endrius, O bardo. Pintando com seiva sobre pergaminho.

Agulha3al - Gostaria de um dia conseguir se transformar em árvore...

6 Comentários:

capaecontracapa 21 de fevereiro de 2008 às 15:43  

haviam reis e mensageiros...

Os mensageiros eram mais queridos por todos...

Então houve um dia em que ninguém queria ser rei.


Um abraço sincero.

Vanessa,  20 de março de 2008 às 10:52  

cara te adoro...

Alessandro 24 de março de 2008 às 13:25  

po cara maneira pra cacete esse text. A TERRA É QUADRADA! Isso foi uma mistura do noss papo de ontem com a relatividade do erra do Asimov. Pelo menos foi o que veio na minha cabeça logo de cara.

Show de bola

Vinho 22 de abril de 2008 às 03:45  

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Vinho, I hope you enjoy. The address is http://vinho-brasil.blogspot.com. A hug.

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